segunda-feira, 1 de abril de 2013

A EXPERIÊNCIA PIONEIRA DO MÉTODO PAULO FREIRE EM ANGICOS/RN¹



Por Andréia Gomes da Silva Andrade²

1. O texto apresentado é parte de um estudo monográfico apresentado ao Curso de Pedagogia – CAP/UERN.
2. Graduada em Pedagogia pela Universidade do Estado do Rio Grande do Norte - UERN, Campus Avançado de Patu – CAP.

É impossível que se descreva o percurso histórico da EJA sem associá-lo ao grande pedagogo Paulo Freire, nome esse diretamente conectado à experiência pioneira por ele desenvolvida em Angicos/RN, a qual foi palco, em princípios de 1963, de um dos maiores acontecimentos ligados à alfabetização no mundo.

Para melhor descrevê-lo, é imprescindível que iniciemos, antes, falando sobre os fatos que o sucederam: em dezembro de 1962, um grupo de estudantes, em sua maioria, universitários, chegou a Angicos/RN para fazer um levantamento do universo vocabular da sua população. Já em 1963, esses estudantes, sob a coordenação de Freire, criaram vários Círculos de Cultura (CC), mobilizando a população mais carente do lugar, sob o patrocínio do Governo do Rio Grande do Norte, através do então governador Aluízio Alves. Esses Círculos tinham, na ótica de Freire, um papel de suma importância, na medida em que favoreciam o diálogo entre educando e educador, propiciando o conhecimento da realidade desse público, tendo em mente partir daí para o conhecimento “sistemático”. Como assim podemos destacar em Freire (1997, p. 70):

[...] comunicação, que se faz por meio de palavras, não pode ser rompida a relação pensamento-linguagem-contexto ou realidade. Não há pensamento que não esteja referido à realidade, direta ou indiretamente marcado por ela, do que resulta que a linguagem que o exprime não pode estar isenta destas marcas.

Para Freire, a linguagem se configura como atividade construtiva e que, portanto, é no diálogo que se aprende. 

O que se pretende com o diálogo, em qualquer hipótese (seja em torno de um conhecimento científico e técnico, seja de um conhecimento ‘experiencial’), é a problematização do próprio conhecimento em sua indiscutível reação com a realidade concreta na qual se gera e sobre a qual se gera e sobre a qual se incide, para melhor compreendê-la, transformá-la (FREIRE, 1997, p. 52). 

Cremos que são estes os elementos que dão abertura ao método freiriano, inovador no Brasil, que se torna mundialmente conhecido, por viabilizar uma alfabetização que extrapola o mero desenvolvimento cognitivo, já que busca o potencial humano de ser, falar e conhecer, tanto os “conteúdos” propostos, quanto o mundo que o cerca, fazendo com que o indivíduo educando se reconheça na sua subjetividade, sentindo-se sujeito e não mero objeto de sua história e da história que o cerca.

Voltando a experiência pioneira em Angicos/RN, Freire propôs que seus participantes aprendessem a ler e a escrever, e mais ainda, viessem a se politizar em apenas 40 horas, sendo estes seus objetivos fundamentais. Fato esse que popularizou essa experiência, atraindo, para Angicos, vários especialistas em educação, além de jornalistas nacionais e internacionais, e políticos à exemplo o próprio presidente do Brasil, na época, João Goulart.

Depreende-se do exposto que, apesar de estarmos vivendo na época um momento conturbado, devido a ser esse imediatamente anterior ao golpe militar de 1964, a experiência do “método” pioneiro, teve grande influencia na vida da população brasileira, principalmente para os alfabetizados nas “40 horas de Angicos”, que tiveram a oportunidade de tornarem-se sujeitos plenamente alfabetizados, agora, capazes de reconhecer seus direitos e deveres em toda sua plenitude. A conjuntura histórica dessa época é muito bem descrita nas palavras de Germano (apud ARAÚJO SILVA, 2012, p.11): 

O país vivia, então, um clima de muitas mobilizações em favor das chamadas reformas de base. O campo nordestino fervilhava com as Ligas Camponesas e com os Sindicatos Rurais que lutavam pela reforma agrária. Partidos reformistas conseguiram ampliar os seus espaços paralelos, e políticos identificados de esquerda conseguiram ser eleitos para altos cargos executivos [...].

É em meio a esse contexto que a prática educativa, através de uma educação que se quer popular, com gênese e difusão em Paulo Freire, torna-se uma prática emancipadora, politizadora, inclusiva, conscientizadora, libertadora, integradora, formadora de opiniões de homens e mulheres, agora verdadeiros cidadãos livres.

Entende-se, desse fato, que não somente por ter conseguido alfabetizar cerca de 300 pessoas, em 40 horas, a experiência inovadora, idealizada por Freire, sendo difundida pelo próprio e por seus “seguidores”, tenha se tornado mundialmente conhecida e valorizada, pois, propunha, em tempos difíceis, uma prática aplicável e inovadora, que traria para a população carente do nordeste brasileiro a libertação tão esperada, a transformação da realidade de qualquer pessoa que esteja disposta a se tornar um ser, alfabetizado, letrado, cidadão completamente politizado. 

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