Alguns trechos do livro:
"Como professor devo saber que sem a
curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não
aprendo nem ensino. Exercer a minha curiosidade de forma
correta é um direito que tenho como gente e a que corresponde o dever de lutar
por ele, o direito à curiosidade. Com a curiosidade domesticada posso alcançar
a memorização mecânica do perfil deste ou daquele objeto, mas não o aprendizado
real ou o conhecimento cabal do objeto. A construção ou a produção do
conhecimento do objeto implica o exercício da curiosidade, sua capacidade
crítica de “tomar distância” do objeto, de observá-lo, de delimitá -lo,
de cindi-lo, de "cercar” o objeto ou fazer sua aproximação
metódica, sua capacidade de comparar, de perguntar." Pag. 33
"Não posso ser professor se não percebo cada
vez melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim uma
definição. Uma tomada de posição. Decisão. Ruptura. Exige de mim que escolha
entre isto e aquilo. Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a
favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor simplesmente do
Homem ou da Humanidade, frase de uma vaguidade demasiado contrastante com a
concretude da prática educativa. Sou professor a favor da decência contra o
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da autoridade contra a
licenciosidade, da democracia contra a ditadura de direita ou de esquerda. Sou
professor a favor da luta constante contra qualquer forma de discriminação,
contra a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. Sou
professor contra a ordem capitalista vigente que inventou esta aberração: a
miséria na fartura. Sou professor a favor da esperança que me anima apesar de
tudo. Sou professor contra o desengano que me consome e imobiliza. Sou
professor a favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela some
se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por este saber, se não
luto pelas condições materiais necessárias sem as quais meu corpo, descuidado,
corre o risco de se amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de
lutador pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de minha
prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e desdenhoso dos alunos, não canso e
me admirar." Pag. 39-40
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