Introdução: Não sei se quem leia este livro perceberá facilmente o prazer com que o
escrevi. Foram quase dois meses em que à sua redação entreguei parte de meus
dias, o maior tempo em meu escritório, em nossa casa, mas também em aviões e
quartos de hotéis. Mas não foi apenas com prazer que escrevi este trabalho.
Escrevi-o tocado por um forte sentido de compromisso ético-político e com
decidida preocupação em torno da comunicação que busco estabelecer a todo
instante com seus prováveis leitores e leitoras.
Precisamente porque estou convencido de que a produção da compreensão do
texto não é tarefa exclusiva do seu autor, mas também do leitor, me
experimentei durante todo o tempo em que o escrevi no exercício de desafiar as leitoras
e leitores a entregar-se à ocupação de produzir também sua compreensão e minhas
palavras. Daí as observações e as sugestões que fiz, com medo quase de cansar
os leitores para, usando instrumentos como dicionários, enciclopédias não
abandonar a leitura de nenhum texto por não conhecer a significação técnica
desta ou daquela palavra.
Espero confiante que nenhuma leitora ou leitor deixará de ler este livro
em sua totalidade simplesmente porque lhe tenha faltado a decisão de trabalhar
um pouco mais. Que abandone a leitura porque o livro não lhe agrade, porque o
livro não coincida com suas aspirações político-pedagógicas, isso é um
direito que lhe assiste. De qualquer maneira, porém, é sempre bom ler textos
que defendem posições políticas diretamente opostas às nossas. Em primeiro
lugar, ao fazê-lo, vamos aprendendo a ser menos sectários, mais radicais, mais
abertos; em segundo lugar, terminamos por descobrir que aprendemos também não
apenas com o diferente de nós, mas até com o nosso antagônico.
Recentemente tive experiência profundamente significativa neste sentido. Coincidentemente conheci um empresário que, segundo me disse rindo no fim da conversa, me tinha como uma espécie de malfeitor do Brasil. Reminiscências do que de mim diziam alguns jornais nos 60.
“Foi um prazer conhecê-lo de perto. Não diria que me converti a suas
idéias mas mudei radicalmente a minha apreciação em torno do senhor”, disse
convincente.
Voltei para casa contente. De vez em quando o Brasil melhora, apesar das
“recaídas” que o abalam...
Como já salientei antes, uma preocupação que não podia deixar de me
haver acompanhado durante todo o tempo em que me dediquei á escrita e à leitura
simultânea desse texto foi a que me engaja, desde faz muito, na luta em
favor de uma escola democrática. De uma escola que, continuando a ser um
tempo-espaço de produção de conhecimento em que se ensina e em que se aprende,
compreende, contudo, ensinar e aprender de forma diferente. Em que ensinar já
não pode ser este esforço de transmissão do chamado saber acumulado, que faz
uma geração á outra, e aprender não é a pura recepção do objeto ou do conteúdo
transferido. Pelo contrário, girando em torno da compreensão do mundo, dos
objetos, da criação, ela boniteza, da exatidão científica, do senso comum,
ensinar e aprender giram também em torno da produção daquela compreensão,
tão social quanto a produção da linguagem, que é também conhecimento.
Exatamente como no caso da produção da compreensão cio texto que e lê,
que é também tarefa do leitor, é tarefa igualmente do educando participar da
produção da compreensão do conhecimento que supostamente apenas recebe do
professor. Daí, a necessidade da racionalidade do diálogo, como selo da relação
gnosiológica e não como pura cortesia.
Não poderia encerrar esta introdução sem alguns agradecimentos.
Em primeiro lugar, a Jorge Cláudio Ribeiro, amigo e editor, que me pediu
(e facilmente me convenceu) que eu escrevesse este livro já trazendo à nossa
casa o próprio título do trabalho. A Jorge Cláudio penso que devo não só
agradecer a sugestão e o pedido que me fez mas elogiar, ele um lado, o
seu empenho para que o texto tomasse corpo, de outro, a fraterna posição que
sempre assumiu sem jamais me telefonar a pretexto de nada para, no fundo, saber
se eu me achava ou não trabalhando no livro. Devo agradecer também às
professoras Suraia Jamal Batista e Zaquial Jamal e às alunas do Curso de
Magistério do Colégio Sagrado Coração de Jesus e às CEFAM da EEPG Edmundo
de Carvalho que partilharam comigo suas lutas e descobertas, na etapa
preliminar de produção deste livro.
Meu muito obrigado a Nita, pela paciência com que me aturou durante os
dias mais intensos de redação do texto, mas sobretudo, pelas sugestões
temáticas que me fez, apontando um aspecto aqui e outro ali, à luz de sua
própria experiência como exprofessora de História da Educação de alguns cursos
do Magistério em São Paulo.
Finalmente, devo ainda agradecer a Madalena Freire Weffort, a Fátima
Freire Dowbor e a Ana Maria Saul pela abertura e pelo interesse com que me
ouviram e comigo falaram sobre algumas de minhas inquietações enquanto eu
simultaneamente escrevia e lia este livro.
São Paulo
Maio/1993
Nenhum comentário:
Postar um comentário