terça-feira, 5 de junho de 2012

LIVRO: Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar - Paulo Freire


Introdução: Não sei se quem leia este livro perceberá facilmente o prazer com que o escrevi. Foram quase dois meses em que à sua redação entreguei parte de meus dias, o maior tempo em meu escritório, em nossa casa, mas também em aviões e quartos de hotéis. Mas não foi apenas com prazer que escrevi este trabalho. Escrevi-o tocado por um forte sentido de compromisso ético-político e  com decidida preocupação em torno da comunicação que busco estabelecer a todo instante com seus prováveis leitores e leitoras.

Precisamente porque estou convencido de que a produção da compreensão do texto não é tarefa exclusiva do seu autor,  mas também do leitor, me experimentei durante todo o tempo em que o escrevi no exercício de desafiar as leitoras e leitores a entregar-se à ocupação de produzir também sua compreensão e minhas palavras. Daí as observações e as sugestões que fiz, com medo quase de cansar os leitores para, usando instrumentos como dicionários, enciclopédias não abandonar a leitura de nenhum texto por não conhecer a significação técnica desta ou daquela palavra.

Espero confiante que nenhuma leitora ou leitor deixará de ler este livro em sua totalidade simplesmente porque lhe tenha faltado a decisão de trabalhar um pouco mais. Que abandone a leitura porque o livro não lhe agrade, porque o livro não coincida com suas aspirações político-pedagógicas, isso  é um direito que lhe assiste. De qualquer maneira, porém, é sempre bom ler textos que defendem posições políticas diretamente opostas às nossas. Em primeiro lugar, ao fazê-lo, vamos aprendendo a ser menos sectários, mais radicais, mais abertos; em segundo lugar, terminamos por descobrir que aprendemos também não apenas com o diferente de nós, mas até com o nosso antagônico.

Recentemente tive experiência profundamente significativa neste sentido. Coincidentemente conheci um empresário que, segundo me disse rindo no fim da conversa, me tinha como uma espécie de malfeitor do Brasil. Reminiscências do que de mim diziam alguns jornais nos 60. 

“Foi um prazer conhecê-lo de perto. Não diria que me converti a suas idéias mas mudei radicalmente a minha apreciação em torno do senhor”, disse convincente.

Voltei para casa contente. De vez em quando o Brasil melhora, apesar das “recaídas” que o abalam... 

Como já salientei antes, uma preocupação que não podia deixar de me haver acompanhado durante todo o tempo em que me dediquei á escrita e à leitura simultânea desse texto foi a que me engaja, desde faz  muito, na luta em favor de uma escola democrática. De uma escola que, continuando a ser um tempo-espaço de produção de conhecimento em que se ensina e em que se aprende, compreende, contudo, ensinar e aprender de forma diferente. Em que ensinar já não pode ser este esforço de transmissão do chamado saber acumulado, que faz uma geração á outra, e aprender não é a pura recepção do objeto ou do conteúdo transferido. Pelo contrário, girando em torno da compreensão do mundo, dos objetos, da criação, ela boniteza, da exatidão científica, do senso comum, ensinar e aprender giram  também em torno da produção daquela compreensão, tão social quanto a produção da linguagem, que é também conhecimento. 

Exatamente como no caso da produção da compreensão cio texto que e lê, que é também tarefa do leitor, é tarefa igualmente do educando participar da produção da compreensão do conhecimento que supostamente apenas recebe do professor. Daí, a necessidade da racionalidade do diálogo, como selo da relação gnosiológica e não como pura cortesia.

Não poderia encerrar esta introdução sem alguns agradecimentos. 

Em primeiro lugar, a Jorge Cláudio Ribeiro, amigo e editor, que me pediu (e facilmente me convenceu) que eu escrevesse este livro já trazendo à nossa casa o próprio título do trabalho. A Jorge Cláudio penso que devo não só agradecer a sugestão e o pedido que me fez mas elogiar, ele  um lado, o seu empenho para que o texto tomasse corpo, de outro, a fraterna posição que sempre assumiu sem jamais me telefonar a pretexto de nada para, no fundo, saber se eu me achava ou não trabalhando no livro. Devo agradecer também às professoras Suraia Jamal Batista e Zaquial Jamal e às alunas do Curso de Magistério do Colégio Sagrado Coração de Jesus e  às CEFAM da EEPG Edmundo de Carvalho que partilharam comigo suas lutas e descobertas, na etapa preliminar de produção deste livro.
 
Meu muito obrigado a Nita, pela paciência com que me aturou durante os dias mais intensos de redação do texto, mas sobretudo, pelas sugestões temáticas que me fez, apontando um aspecto aqui e outro ali, à  luz de sua própria experiência como exprofessora de História da Educação de alguns cursos do Magistério em São Paulo.

Finalmente, devo ainda agradecer a Madalena Freire Weffort, a Fátima Freire Dowbor e a Ana Maria Saul pela abertura e pelo interesse com que me ouviram e comigo falaram sobre algumas de minhas inquietações enquanto eu simultaneamente escrevia e lia este livro.

São Paulo
Maio/1993

Para  salvar o livro em PDF acesse os Link: 
 http://forumeja.org.br/files/Professorasimtianao.pdf


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