Por Márcia Tiburi
Que Educação temos e que Educação desejamos?
A pergunta pela Educação é das mais sérias em nossa época em que a dimensão formativa da vida de todos nós, nas nossas diversas idades, está em perigo.
Com a literatura aprendemos que não há “uma” literatura, mas que a cada poema, a cada romance, a cada conto, a cada livro escrito e publicado a literatura se refaz. Do mesmo modo, com a arte. A cada vez que alguém inventa uma obra, produz um acontecimento expressivo, ele resignifica a arte na prática.
Com a filosofia descobrimos o mesmo. A história da filosofia nunca está pronta porque ela é um devir do qual todos podemos participar refazendo o sentido da experiência de pensamento e criando as condições de sua exposição, seja em aulas, debates, grupos de estudos, livros, e até mesmo nos blogs, ou em qualquer lugar no mundo vasto do ciberespaço. Verdade é que a filosofia precisa de pessoas que se reúnam em torno do poder de saber pelo amor a uma verdade que se descobre a cada experiência.
E o que é EDUCAÇÃO?
Educação é a forma própria da teoria enquanto ela é prática e da prática enquanto ela é teoria. Ou seja, Educação é um poder-saber e um saber-fazer. Esta é a sua circularidade essencial. A cada vez que eu entro na sala de aula, sei que minhas teorias são postas em prática, ou seja, que o que eu penso, o modo como vejo o mundo, e o que eu penso do outro ser humano com quem me encontro, torna-se concreto. Daí a importância da formação dos professores que, num sistema de ensino aviltante como o que temos no Brasil atual, são muitas vezes heróis desamparados quando deveriam ser profissionais respeitados por agirem na formação das subjetividades dos jovens e dos adultos que são os cidadãos também aviltados da injustiça sócio-educativa atual.
Podemos dizer que a educação, assim como a literatura, as artes e a filosofia, é também aquilo que fazemos a cada dia, a cada vez que colocamos em prática as nossas teorias relativas à formação das pessoas no seu encontro com o conhecimento. Professor é quem faz a mediação para esta aproximação e, assim, abre a janela de um novo mundo a quem pode aprender. A Educação é uma relação social e pode ser uma experiência existencial consciente.
Isso tudo quer dizer que a EDUCAÇÃO É UMA FORMA DE ÉTICA.
Educação é o tempo-espaço que se faz do encontro entre teoria e prática, entre as potências da compreensão e da ação que configuram a ética e, na sua potencialização, a política. A Educação é construtora da ética em nosso mundo à medida que forma subjetividades, em que é por meio dela que a reflexão sobre a ação própria da ética, vem ao mundo. Ética é justamente esta reflexão sobre a ação. E é reflexão comprometida com a ação transformadora. A relação entre Educação e Ética precisa ser enfatizada de modo a potencializar o caráter prático do pensamento que está no cerne da Educação.
Por isso, todos nós, sejamos professores ou estudantes, pais ou filhos, colegas ou amigos, todos nós temos que saber que a escola é uma lugar onde a Educação é exercida, mas que a escola só tem sentido enquanto ela se refere também à vida. Em outras palavras, a escola deve educar para a vida. A pergunta essencial e urgente em nosso contexto vale para todos os que estão envolvidos com a Educação dentro ou fora da escola: “sei o que estou fazendo?”. Esta é a pergunta ética por excelência.
Educação é prática cotidiana da qual estudantes, pais e professores, bem como as instituições são igualmente responsáveis. Assim, ela se reinventa por meio de nossos gestos diários. A partir desses gestos que são sementes aparentemente insignificantes é que a vida se constrói. Quem sabe esta vida, bem germinada, possa ser o exemplo para que no âmbito político as coisas se transformem na direção da justiça e dos direitos para professores e estudantes no abandonado campo da Educação.